quinta-feira, 4 de julho de 2013

BEN CHARLES NO BLOG TODOOUVIDO


Na minha infância ao pé do rádio, meu ouvido era inundado pela música brega e romântica de Odair JoséWaldick Soriano, Lindomar CastilhoPaulo SérgioNúbia Lafayette e afins. Um estouro popular na época. A classe média e baixa do Nordeste se esbaldava, chorava e consumia cachaça escutando esse som passional repleto de dores de amores e chifres colossais. No meio dessa tempestade intimista, um som diferente, mais quente e moleque fazia, para mim, a diferença nos dials das AMs. Era o carimbó de um cara do Pará de nome divertido, hoje cultuado e imitado, chamado Pinduca. Mais tarde, entenderia que o cara nasceu em um estado com um dos ritmos populares mais hardcore já criados no Brasil, a guitarrada, que teve exatamente no carimbó, uma de suas maiores inspirações.


Toda essa longa introdução era para falar que o carimbó e a guitarrada, com sua força rítmica, começam a ser justamente revisitados pelos mais novos, como a interessante banda paraense La Pupuña, e pelos não tão novinhos mais que provavelmente tiveram o carimbó como um dos elementos de sua formação musical, a exemplo do fenomenal Kassin. E foi essa pegada que me chamou a atenção no som de um cara aqui de Boa Vista conhecido Ben Charles. O cara foi um dos pioneiros da cena rocker em Roraima. Em seu upgrade sonoro, evoluiu para um som que ele chama de “carimbóelectroseco”, uma mistura eclética e explosiva de ritmos, onde a guitarra reina impávida e nervosa. O cara, inclusive, é um dos artistas do portal da Trama. Vá em http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/ben_charles para conhecer um pouco mais sobre o sujeito. Pra mim, que só pude assistir a um espetáculo do cabra até agora, foi um achado.



Um amigo meu, Ed, talentoso fotógrafo e diretor de arte, chama oBen Charles de “Chico Science do lavrado”. A conexão tem a ver. As composições do músico bebem de influências múltiplas, provocadas pela localização geográfica de Roraima e a forte miscigenação racial. O músico mistura desavergonhadamente carimbó com música eletrônica com ritmos latinos e, é claro, com rock and roll. Esse caldeirão acaba tornando a música de Ben Charles um tanto inclassificável, mas claramente autoral. E é isso que chama atenção de cara na catarse dessa figuraça em cima do palco. É bom demais ver alguém que se permite divagar, numa puta entrega, a partir de nossa riqueza musical explorando ainda o que de bom a música do mundo já produziu.



O show que assisti do Ben Charles, com sua banda, a Los The Os, foi em sua própria casa, cercado de amigos, numa noite daquelas em que uma chuva fina ameaçava virar chuva grande, iludindo a galera. Era aniversário dele. E o presente foi pra gente. Inspirado, o cantor e compositor destilou sua música bem temperada, com direito a longos improvisos de guitarra. O carimbó presente aqui e ali em seu som me fez voltar à infância. Isso e a energia de suas músicas garantiram uma noite mágica. Quero ouvir mais Ben Charles para poder falar com mais propriedade sobre as experimentações que o cara faz. A primeira impressão, marcante, é que esse cara tem que ser mais ouvido pelo Brasil e pelas gerações mais novas. Até mesmo para implodir a caretice e para que os candidatos a músicos se reinventem e se tornem engenheiros da novidade. Ben Charles, com 27 anos de estrada, mostra o caminho. 



Para ouvir a música de Ben Charles e Los The Os vá em : http://www.reverbnation.com/bencharles



Assista a clip da música “Ubá”, momento completamente lounge de Ben Charles:



BEN CHARLES NO PORTAL MACUXI

Ben Charles – Amazônia em ritmo e poesia

Baixe gratuitamente o último trabalho do artista roraimense

Por Rodrigo Baraúna
ben charles 1
Ok, ok! Sou suspeito em se tratando de qualquer trabalho que meu primo/irmão, Ben Charles, realize. E daí? Foi meu primeiroGuitar Hero, o cara que me inspirou a empunhar uma guitarra e fazer um som. Sempre acompanhei de muito perto seus trabalhos, desde os primórdios da banda Classe Média, que arrasava nos palcos de Boa Vista, até o seu mais novo disco, recém lançado gratuitamente na internet, “Carimbó Electro Seco ou o Amor e a Esperança em Tempos de Aquecimento Global”. E mais uma vez o primo mandou bem.
Às vezes penso que, para valorizarmos nossas raízes e nossa essência, precisamos largar tudo e mudar de lugar, mudar de aldeia, como diz Neuber, fazer nossa fuzarca em outra maloca. Pois esse paradigma, de estar longe, mas perto, é no mínimo intrigante. Uma coisa é você ver a montanha de longe, outra é subir a montanha. Mas se você nasceu na montanha e nunca a desceu para contemplá-la de longe, você não se permitirá ter uma visão do todo, e acima de tudo, sentir saudade dela. Resumindo, estar perto é se acomodar com o mesmo, e estar distante é amar estar perto e aprender a conviver com a saudade.
Saudade cantada, meu velho, é uma experiência complexa, pois não é ficção, é uma coisa concreta. Imaginativa, enfim. Bom, chega de viagem! Hehehehehe. O cara passou alguns anos longe de Roraima e tudo que é cantado por ele é uma saudação às suas raízes.
Vamos ao disco:
Neste trabalho, Ben Charles fez uma espécie de compilação de estilo de todos os discos já lançados até agora, isso incluiu até mesmo o primeiro CD, intitulado “A Caminhada”, quando ainda assinava artisticamente como Charles Filgueiras. O termo “Chuva Verde” está implícito em ambos os trabalhos, fazendo uma alusão ao horizonte chuvoso das planícies infinitas de Roraima.
Os arranjos rítmicos pré-programados também lembram bastante o segundo disco, que leva o nome já mudado do artista. A música “Coração Sessentista” poderia fazer parte do repertório deste novo trabalho, mas só em termos de arranjos, pois na concepção conceitual a coisa não se encaixaria muito bem, uma vez que, como sugere o título da música mencionada, Ben Charles teve como fonte a fase da Literatura Modernista Brasileira.
Para não confundir muito, sugiro aos curiosos e amantes da música roraimense que conheça a discografia dos artistas locais. Ben Charles é uma ótima opção, porque além de multi-instrumentista, as letras compostas por ele são verdadeiras poesias de amor à cultura Amazônica. Coisas simples, como o pé sujo de barro, buscar água no poço, o olho d’água que deseja ser rio. Tudo é poesia.
O bacana – para mim, que sou primo – é que a família é outra de suas fontes de inspiração. Destaco a música “A Raça É Uma Ana”, que além de ter um arranjo bem para cima, dançante, é também uma homenagem à nossa tia Ana Almeida, que morava em sua casa e que, de fato, “cuidava” dele quando criança. A babá era a tia. E realmente, a tia Ana tem uma alma de humanidade muito grande. Em outras palavras, ela estraga os sobrinhos e eu não fiquei de fora, Hehehhehhehe!!!!.
Já escrevi horrores, mas agora sinto certa necessidade de falar do Carimbó. Mas que diabos o Carimbó tem a ver com um guitarrista, que no início era tido do “Dimi Endriquis do Lavrado”?
Explico:
Menino quieto que era, sempre ficava fuçando os aparelhos domésticos de casa, afinal, tudo era brinquedo. Mas uma coisa chamava mais sua atenção – o rádio. Aquele botãozinho que rodava e fazia um fiozinho laranja andar de um lado para o outro, atrás de uma régua, era fascinante. Quanto mais se rodava, mais coisas estranhas aconteciam. Homens falando palavras estranhas, músicas, novelas, propagandas. As frequências AM eram mais “fáceis” de serem captadas nos aparelhos antigos, por isso era comum se ouvir rádios do Caribe. Uma safra de músicos do Norte do País, que cresceu ouvindo música caribenha criou o ritmo conhecido como Carimbó. Ben Charles foi um deles. Não que o cara tenha inventado a parada, longe disso. Acontece que esse ritmo é a essência musical dele.
Acho que já está bom. Se ficou faltando alguma coisa, mande um e-mail para mim, que eu passo o celular dele e vocês matam uma galinha para conversar depois. Tstststs.
Abraços.
Clique aqui para baixar o disco: